14 de maio de 2009

Ônibus Escolar

Não lembro ao certo, se quando pequena à espera do ônibus escolar, minha mãe já havia saído para o trabalho ou se estava terminando de se arrumar. Lembro apenas que todo dia era uma saída solitária. Eu ficava sozinha na varanda de casa e ao sair, batia apenas o portão. Nunca houve pai ou mãe à espera comigo.
No fundo, fui uma criança bastante sozinha.
Meus pais sempre trabalharam fora e minhas tardes eram na casa da minha avó. Passava horas e horas no quintal que tinha o tamanho de um sítio na minha cabecinha infantil.
Era o terreno perfeito para os meus castelos imaginários, os palacetes que sempre achei que moraria um dia e para as brincadeiras com os amigos que ainda não havia feito.
Era uma criança de poucos amigos, é bem verdade. Lembro de algumas crianças da vila ao lado, mas nunca fui muito chegada à agitação.
Gostava mesmo de brincar com a filha da manicure de minha mãe. E só com ela.
Quando um pouco mais velha, passei a brincar na rua. Mas nunca deixei de ser uma criança reservada.
Na infância sonhei em morar em uma casa de dois andares. Um segundo andar, sabe-se lá porque, fazia falta na minha vida.
Já na pré-adolescência sonhava em morar em prédio. Achava que tendo um play seria mais feliz.
Aos 14 anos mudamos para um apartamento, em outro município.
Fiquei sem casa, sem quintal, sem segundo andar, sem os poucos amigos que tinha e sem o play.
Meu prédio era um daqueles antigos com garagem pequena e sem playground. Os amigos que conquistei foram da escola e não do prédio como achei que um dia teria.
Tai, nunca fiz amigos no prédio.
Atualmente, já morando em outro prédio e com play, quando pela manhã saio pra passear com meu cachorro, sempre vejo um monte de crianças à espera do ônibus escolar com seus pais.
Achava exagero aquele monte de pais e mães acenando e mandando beijos para o ônibus.
Hoje parei pra pensar que o meu desdém usual para aquela cena demonstre apenas uma inveja de leve de algo que nunca tive: amigos do prédio e uma mãe esperando o ônibus da escola comigo.

Um comentário:

Felipe disse...

Deppis de algumas coisas que passamos, outras parecem apenas fichinha...