9 de janeiro de 2009

A Menina e a Porta

 

A porta antes entreaberta agora parece ter se fechado de vez. Meus olhos de menina tentavam enxergar o belo, mesmo já estando há tempos tudo sombrio e vazio. A vela agora se apagou.

Ninguém nunca poderá me acusar de não ter tentando. Usei unhas, dentes, sangue, suor, saliva e lábia. Lutei com a força que eu tinha e a que eu não tinha também.

Depois da longa batalha, agora sim me sinto pronta pra seguir em frente, virar a página, dar a volta por cima, me reencontrar.

A vida sempre se encarrega de nos reerguer depois da tormenta.

Tudo é uma questão de tempo.

E esse filme eu já vivi.

 

 

Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.

(Caio Fernando Abreu)

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