2 de junho de 2009

Sobre os vôos da vida

Essa história do Avião pra França não te assustou? Você viaja tanto, não tem medo de voar?

 

Honestamente não. Tenho muito mais medo de andar pela Avenida Brasil, muito mais medo ainda da Linha Vermelha e dos bandidos da Vila do João.

Tenho mais medo do engarrafamento na subida da Ponte Rio-Niterói, ali na Leopoldina, onde uma vez quebraram meu Vidro com pedras portuguesas e me colocaram uma arma na cabeça para que eu entregasse a bolsa. Tenho medo também de Vila Isabel, refém do morro dos macacos, onde novamente fui ameaçada por causa de um relógio e um notebook.

Se morresse em qualquer uma dessas situações seria uma morte quase anônima.

É lógico que me emociono ao ver as histórias de vida de quem embarcou rumo à Paris e desapareceu. Essa humanização da mídia, mostrando detalhes da vida de quem se foi, acaba me deprimindo. Mas é o que vende jornais e dá Ibope.

Foi a mesma coisa quando um avião da TAM se chocou com um prédio em São Paulo e do mesmo modo aconteceu em tantos outros acidentes aéreos.

Aviões que caem, batem ou explodem, causam comoção coletiva. É sempre um tragédia, são sempre centenas de pessoas que morrem de uma única vez.

Mas se você olhar friamente para o Rio, ou para outras cidades tão violentas quanto, verá que centenas de pessoas morrem diariamente também. A diferença é que quem morre sozinho, sob tiros de bandidos ou por erros de policiais, não têm a mesma atenção.

O mundo se mobiliza para localizar o avião, ou destroços dele. Mas nunca ninguém mais ouviu falar da busca pelo corpo da Patrícia Franco, a engenheira que fugiu de uma blitz na Barra e acabou morta.

É, acho que não tenho medo de avião.

 

Nenhum comentário: